Caravana Pixaim
Mais de 600 expectadores em primeira temporada pelo interior
Mais de 600 crianças
de quatro cidades de Mato Grosso participaram da primeira temporada do projeto
Caravana Pixaim nos últimos dias. Somadas às já atendidas pelo projeto em
Cuiabá e Várzea Grande, a ação já atingiu quase mil crianças, além de professores e
funcionários de escolas estaduais. Nos últimos dias, a ação passou por Santo
Antônio do Leverger, Nossa Senhora do Livramento, Poconé e Jangada.
A Caravana
Pixaim distribuirá três mil exemplares do livro “Cabelo Ruim”, da jornalista
Neusa Baptista a escolas de 22 cidades e leva uma peça teatral homônima baseada
no livro para discutir as relações raciais dentro da escola.
Desde a
última sexta-feira (5), o projeto tem percorrido as escolas levando oficinas
de leitura e escrita, esta última ministrada pela autora do citado livro, Neusa
Baptista; oficinas de Tranças Afro, com a Lidia Rosa Dju de Guinea-Bissau. À frente do projeto está o produtor Paulo Traven, da CUFA-MT.
Em Santo
Antônio de Leverger, onde a Caravana esteve na escola Leonidas de Matos (600
alunos), a coordenadora do programa Mais Educação, Gretchen Pinheiro, ressaltou
que a população local é mestiça e que, portanto, tem levado a discussão sobre a
diversidade à sala de aula por meio do diálogo. “Trabalhamos temas como
direito, cidadania, valores, na medida do possível”, disse ela.
O estudante
Kilmair Ygor Galdino, 10 anos, ressalta a presença do preconceito na escola por
meio de piadinhas, brincadeiras, mas reprova a atitude. “Tem meninas que tem o
cabelo enrolado e são chamadas de bombril. Isso é horrível, pois se fosse a
gente, não íamos gostar”. A opinião é compartilhada pela maioria dos alunos
participantes das atividades, porém a maioria identifica situações de
discriminação racial na escola e na sociedade. “Cada um tem seu nome, ninguém
gosta de apelidos”, disse a estudante Clara da Silva, 14 anos.
A professora
Elaine Cristina da Silva aponta que a discriminação está geralmente relacionada
à aparência. “Qualquer coisa fora do estereótipo é alvo de piadas e apelidos”.
A mesma opinião
é expressa pela coordenadora da escola José de Barros Maciel, em Nossa Senhora
do Livramento, Mariluce Fátima da Silva. “Não podemos negar que o preconceito
racial existe. Aqui mesmo na escola, em dia de festa junina, ninguém quer
dançar com as meninas mais ‘moreninhas’”.
O estudante Geovane Carvalho da Silva, 11 anos, confirma que os
xingamentos dos colegas são constantes. “Tem
colega da sala que é chamada de cabelo Bombril. Tem reunião de pais, mas
ninguém participa”.
A professora
Azélia Martins Melo lembrou que, na edição anterior da Caravana, em 2010, era
assessora pedagógica e trouxe à escola os remanescentes de quilombolas
da comunidade de Mata Cavalo. “Foi muito proveitoso, pois meninas de lá que
fizeram a oficina de tranças depois voltaram aqui para dar mais uma oficina”.
Em Poconé,
onde a Caravana passou pela escola Bacharel Ribeiro de
Arruda, a professora de História Marilda
Domingas informa não haver projeto específico sobre o tema na escola, mas que
isso é abordado de forma contínua. “Conversamos muito com os alunos, mas
sentimos sua resistência a discutir esse tema”. O diretor Wanderson Sebastião Barbosa (Ximbo)
confirma que 70% das crianças são negras, descendentes dos negros escravizados
no passado. “Até quarenta anos atrás
havia locais interditados aos negros na cidade. Mas isso mudou muito. Na última
eleição, tivemos duas vereadoras negras”.
A articuladora educacional da escola Prof. Arlindo de Souza Bruno,
em Jangada, Eucila Jesus de Arruda, comenta que as atividades voltadas ao tema
se concentram em novembro, mês da Consciência Negra. “É preciso mudar, e é mais
fácil mudar as crianças. Este trabalho de conscientização é muito importante”.
A professora de Educação Infantil Vilma Vera Mendes, fala da
falta de materiais didáticos e das dificuldades de trabalhar o tema. “A gente
lê muito para eles sobre isso. O último livro foi ‘Menina Bonita de Laço de
Fita’ e foi muito bom. Aqui não temos projetos, mas já trabalhamos isso em
projetos em outras escolas”.
Devido às férias escolares, as ações do projeto voltam em
agosto.
Mais fotos do Projeto -> http://www.flickr.com/photos/cufamt/sets/72157633606866607/
quinta-feira, 11 de julho de 2013
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário