sexta-feira, 9 de agosto de 2013


Caravana Pixaim: a arte discute a diversidade





A arte é uma poderosa ferramenta para discutir a discriminação racial e o respeito à diversidade. É o que concluem os educadores das escolas visitadas pela Caravana Pixaim, que encerrou mais uma etapa nesta quarta (7), após passar pelas cidades de Chapada dos Guimarães, Campo Verde e Primavera do Leste.

Diretor da escola estadual Ana Tereza Albernaz, Pedro Boaventura da Silva, ressaltou que a experiência com a Caravana é sempre positiva. É que a escola já recebeu a atração há três anos, na primeira edição do projeto. “Com certeza, esta atividade traz uma melhor compreensão aos educadores e alunos sobre o tema da diversidade. Aqui não temos tanta manifestação de preconceito, mas elas acontecem”, disse ele, ressaltando que entre os 1.100 alunos, cerca de 20 são oriundos dos quilombos de Lagoinha de Cima e Lagoinha de Baixo, a cerca de 20 km de Chapada, que já sofreram bastante discriminação.


A coordenadora pedagógica da escola, Delmira Maria de Moraes, conta que o livro “Cabelo Ruim?” é utilizado até hoje pelos professores, no caso de conflitos dentro da escola. “Ele é utilizado nos temas transversais em face destes conflitos. É muito importante trazer este esclarecimento, principalmente porque recebemos alunos da zona rural e quilombolas”, diz ela, contando que uma destas alunas, por vir à escola com os cabelos crespos despenteados, era alvo constante de discriminação, mas não é mais, devido ao diálogo mantido com os estudantes e pais.

Uma das quilombolas é Marcielly Carlos da Cruz, 13 anos. Para ela, o preconceito na escola existe e precisa ser combatido. “Existe bullying na escola sim. Isso é a maior chatice, precisamos conversar mais sobre isso”. “Foi divertido, interessante, ensinando a gente a não ter mais preconceito. Deveria haver mais atividades como estas na escola”, avaliou a aluna Ana Louisa Valadão Costa, 17 anos.


A técnica administrativa Silvana Souza, da escola Waldemon Moraes Coelho, em Campo Verde, concorda que o tema deveria ser mais discutido na escola. “A discriminação é grande, por mais que se tente ser aberto à mudança. Deveria haver mais discussão sobre o tema com as crianças desde pequenas, incentivando o respeito entre elas, nem sempre isso acontece, não só na escola, mas na sociedade em geral”.



Segundo a professora Lucivane Vaz Porto, uma pesquisa feita na instituição mostrou que o preconceito racial entre os alunos vinha em segundo lugar, precedido pelo preconceito contra pessoas com deficiência. “Conversamos muito com os alunos, passamos esta mensagem sobre a necessidade de conviver bem com as diferenças, trabalhando valores como o respeito e a valorização do outro. Todo mundo tem algo a contribuir”.

A aluna Ariane Santana Ribeiro, 13 anos, contou o caso de uma colega de sala, que tem o cabelo “bem ruinzinho”. “As crianças riem dela, eu falo com a professora, mas ela não diz nada. Só ouvimos falar de respeito ao outro na aula de Ensino Religioso”.



Em Campo Verde, a presença da Caravana Pixaim, em 2010, deu frutos. A aluna Larissa Daniela de Lima Velasco, 12 anos, montou uma peça teatral baseada no livro, por iniciativa própria, que foi apresentada aos colegas. “Isso toca a gente, principalmente a mim, pois as pessoas vivem rindo do meu cabelo”...

Para a professora Márcia Regina Martins, da cidade de Primavera do Leste, onde a Caravana esteve na escola Sebastião Patrício, comenta sobre as dificuldades de se tratar do tema. “Procuramos manter o diálogo com pais e alunos, mas todos nós acabamos tendo preconceito, de uma forma ou de outra, não somente preconceito de cor, mas vários outros”.


José Carlos, 13 anos, aluno da instituição, elogiou a iniciativa do projeto, lembrando que a discriminação deixa marcas. “Faz mal tanto para quem pratica como para quem sofre. A pessoa pode desenvolver problemas psicológicos por causa disso. Preconceito é coisa que não devia existir”.

Cerca de 670 estudantes assistiram à apresentação da Caravana Pixaim nas três cidades. O projeto leva a peça teatral “Cabelo Ruim?”, baseada no livro homônimo, e oficinas de tranças afro e de leitura. Cada escola recebeu cerca de 100 exemplares da obra.


O projeto Caravana Pixaim tem o patrocínio, via lei Rouanet, do grupo André Maggi e da Rede Energia. Até setembro, o grupo percorrerá 22 cidades.

Um comentário:

  1. gente só agora achei esse projeto

    que lindeza

    queria participar/ajudar de alguma forma...

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