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terça-feira, 21 de abril de 2009

Circuito de Oportunidades

Saiba como foi o Lançamento do Circuito Pixaim no Bairro Alvorada

Por Dríade Aguiar
Fotos por Jacilla Morais

Sábado a tarde. Dia dos trabalhadores de classe média se juntarem à sua família para um descanso em conjunto. Mas no bairro Alvorada outros trabalhadores mantém o ritmo frenético da semana. A CUFA Cuiabá, junto da jornalista Neusa Baptista iniciaram hoje, na praça do bairro Alvorada o projeto Circuito Pixaim.


Quando perguntamos para Neusa, descobrimos que tudo começou em 2006, com o lançamento de seu livro, o “Cabelo Ruim? A história de três meninas aprendendo a se aceitar”. Karina, Coordenadora de Projetos da CUFA se animou e formou no ano passado o Núcleo Maria Maria, direcionado especialmente para mulheres das comunidades periféricas com o intuito de disseminar entre elas o empredendorismo e o lazer saudável.

E na praça várias atividades foram realizadas simultaneamente. A Secretaria Municipal de Esporte e Cidadania trouxe para as crianças atividades lúdicas, entre elas Pula-Pula, Futebol de Rua e Jogo de Cordas. Desde às 14:00, horário marcado para começar o lançamento, as crianças do bairro já fazem fila na parte de baixo da praça.

Mais em cima, na arena, duas tendas foram erguidas. Uma delas é a tenda Pixaim, que abriga várias atividades também. A barraca da Dª Ilma é uma delas. Ela vende bonecas negras, a famosa Nega Maluca, personagem importante do Folclore Brasileiro. Ao seu lado, mais uma barraca de artesanato, desta vez com peças feitas inteiramente em crochê. Ainda nas barracas, o MST – Movimento dos Sem Terra (outros trabalhadores que continuam sem parar) expõe vários livros que envolvem sua cultura, em sua maioria do libertário Chê.

Ainda na tenda do Pixaim, a cabeleireira Ana Fashion faz as tranças nas mulheres que passam pela praça. Uma dessas mulheres é Tatiane Andrade, que mora em Nova Monteverde e se encontra hospedada na Associação de Amigos da Criança com Câncer (AACC). Mais cedo, mães e crianças do centro de tratamento vieram participar da inauguração. Enquanto trança, a Ana fala sobre a beleza negra. “O cabelo ruim não existe. Existe é cabelo diferente. Na verdade, o cabelo negro, para as tranças, é melhor”. Quem tem um discurso parecido é Neusa, que também está na tenda para divulgar o livro, o mesmo que deu início a tudo isso.



A segunda tenda é dedicada só para o bazar de roupas promovido pela CUFA. É nela que fica clara a participação da comunidade no projeto. As colaboradoras trabalham como atendentes do bazar, que vende além das roupas, calçados a preço acessível.


As duas tendas não servem apenas para expor o trabalho desses agentes da comunidade, mas também para se inscrever para as três oficinas: a de Leitura, a de Teatro e a de Tranças Afro. Todas elas se darão na associação de moradores do bairro. Esse circuito de oportunidades – oportunidades sim, já que além de divertir a população, a ensina, fazendo a mulher negra se sentir valorizada - não pára aqui. Além das oficinas, esse projeto ainda vai migrar para Quilombos no interior do Estado.Mais um projeto bem feito da CUFA e eu, repórter (mulher) bato palmas.

Do Sertanejo ao Hip Hop!

Pixaim é lançado no Alvorada

Por Alfa Canhetti
Fotos por Jacilla Morais




Guiada pelos burbulhos de som ao vivo, a praça principal do bairro Alvorada foi facilmente localizada, já que contava com estrutura impecável de palco e som em uma das extremidades da quadra, sendo que esta é usada diariamente pelos moradores da redondeza. Por se tratar dum evento da CUFA, fui certa de que encontraria algo totalmente voltado pro Hip Hop, engano meu. Chegando lá, é sertanejo? Sim! Uma dupla sertaneja, mas não é qualquer uma não, hein! É Luiz Paulo e Hernandes, uma das regionais mais conhecidas no Alvorada. Durante a apresentação várias garotas acompanhavam as letras na beirada do palco. A dupla é do bairro Araés, estão completando sete anos de existência, quatro faixas gravadas no estúdio Inca e consideram-se em casa quando estão no Alvorada. Segundo Linha Dura, eles são “sertanejo favela”.

Em seguida subia ao palco o Coral do Sindicato dos Jornalistas, todos vestidos de vermelho, se organizaram em meio círculo e a regente de frente a eles. Entre clássicas como ‘Exagerado’ de Cazuza, diversas crianças que corriam pararam pra ouvir a bela melodia que formavam as vozes. Depois da apresentação aguardei no fim da escada pra saber mais sobre o projeto. “Sou jornalista, escritor, poeta e sem dúvida nenhuma atividade que me traz maior satisfação pessoal é o coral. Estar nele é experimentar estar em coletivo, respeitar as diferenças do próximo e cooperar pro crescimento do outro, já que o resultado final depende de cada um de nós”, conta Lorenzo Falcão, editor do caderno de cultura do jornal Diário de Cuiabá. O coral existe há dois anos e não é restrito a jornalistas, qualquer pessoa interessada pode fazer parte. Os ensaios acontecem aos domingos às 4 da tarde no Centro Cultural da UFMT.

Depois de uma dupla sertaneja e um coral, já esperava que a diversidade cultural imperasse por toda a programação da noite, e estava certa. Apenas um cara e seu violão, Amaury Lobo, que apesar de seu repertório conter músicas covers como “Neguinha”, ele também compõem próprias e com temas propriamente cuiabanos, como é o caso de uma letra que diz “Eai morena, como é que rola nessa tarde morna? O bueiro entupido, vocês virão?” explorando signos regionais. Logo após os integrantes do grupo de capoeira Nagô estavam se organizando em volta do circulo central da quadra de futebol da praça principal do Alvorada, enquanto isso pude flagrar Linha Dura, que ocupava o posto de locutor de palco, dando uns passinhos do “dance” que o Dj Fernando Mix soltava entre uma apresentação e outra.



Então o grupo de capoeira estava pronto e todas as crianças que corriam pela quadra agora eram componentes da roda, batendo palmas no ritmo das canções com toda a força que havia em seus bracinhos, muito entusiasmo tanto dos capoeiristas como de todos que assistiam. Depois da apresentação conversei com Adriele, moradora do bairro Alvorada e integrante do grupo de capoeira. “É extremamente estimulante ver a comunidade interada nos projetos da CUFA dentro do bairro. Acompanho as atividades do coletivo e não podia deixar de convidar o grupo de capoeira da região, já que é formado por filhos de moradores antigos do bairro”.

Adiante a programação, Linha Dura, um dos principais responsáveis por esse jato de diversidade cultural estar sendo jorrado sobre o Alvorada. Sempre acompanho apresentações dele nos eventos e festivais em que o público é predominantemente jovem, porém aquela era uma situação diferente, um evento voltado pra comunidade do bairro, famílias inteiras sentadas em bancos da praça, crianças expelindo energia no espaço da quadra e “manos” que, presumo eu através dos olhares atentos, se identificar com as letras cantadas pelos rappers, Linha Dura e o companheiro P. Brother. Era um momento que a realidade contida nas músicas estava sendo apresentadas para o que foi a inspiração. No fim da apresentação uma extensa lista de nomes de pessoas significativas na região foi parte do improviso. Segundo Linha, “o projeto tem o intuito de dialogar com comunidade e a CUFA ser a ponte entre o centro e a periferia, trazer diversidade cultural para ampliar a visão de quem mora no Alvorada e trazer alternativas pra tirar o jovens da rua. Esse projeto terá periodicidade de 15 dias, podendo ser ponto de encontro, palestras entre outros que estamos planejando”.

Quase no final da noite, Dj Fernando Mix é quem mandava o som. Funk, dance e outras batidas muito conhecidas por que estava ali foi o que predominou. Fernando mostrou o ponto de vista dele acerca dos projetos da Cufa na comunidade: “O bairro Alvorada é o mais violento, vemos amigos nosso se matando, drogas em grande circulação e esses projetos que a CUFA vem trazendo é com o propósito de mudar essa realidade. Eu estou com eles!”.

Além disso, tocaram ainda Patrick e Fernando, outra dupla sertaneja, que fez o público continuar na praça, já que muitos que ali estavam, chegaram às 14 horas, quando o evento começou. No palco, a dupla comentou sobre a importância do Projeto para o Bairro, bem como estavam se sentindo lisonjeados por fazer parte do Pixaim. Juliano, ressaltou ainda, que a pareceria entre a dupla e a CUFA, é muito significativa para a dupla.Fechando a noite, a Banda Tri Pegada, com seu axé, animou inclusive as pessoas que estavam fora da quadra. Além de presença confirmada nos eventos da CUFA, Serginho, o líder da banda, que ministra oficinas de percussão no Bairro Dom Aquino, também ministrará oficinas no Alvorada.