Por Ederson Déka
O reflexo do diferente
Caravana é sinônimo de trânsito, andança, cortejo, sair de um lugar para o outro de maneira contínua e foi isso que aconteceu com uma das maiores iniciativas itinerantes realizadas no ano de 2010 em solo mato-grossense.
Estamos falando da Caravana Pixaim, coordenada pela CUFA-MT (Central Única das Favelas de Mato Grosso), que foi patrocinada pelo Grupo André Maggi, viabilizada pelo Ministério da Cultura por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).
A ação levou em sua bagagem cinco mil exemplares do livro “Cabelo Ruim?”, a apresentação da peça teatral homônima, encenada por Hendy Assumpção (Grupo Tibanaré), a discussão da Lei Federal 1639/03 e proporcionou a cada cidade visitada a valorização de suas manifestações culturais locais.
Oficina de leitura na cidade de Sinop
Peça teatral “Cabelo Ruim?”: Mais de 10 mil expectadores
A peça teatral “Cabelo Ruim?” foi vista por mais de 10 mil pessoas de norte a sul de Mato Grosso. Foram 30 cidades, 49 apresentações, destas 20 em Cuiabá e Várzea Grande.
A emoção, o encanto, a alegria e a mudança foram sentimentos levados pela peça, que mudou o modo de pensar de muitas pessoas sobre a cor da pele, a qualidade do cabelo e as relações raciais, que são eixos discutidos na encenação teatral.
Cidade de Barra do Garças,última a receber a Caravana Pixaim
Oficinas
A oficina de trança afro despertou nos participantes uma magia sem igual, pois os detalhes, os desenho possíveis e toda arte proporcionada pelas tranças chamaram a atenção de quase mil pessoas, dentre crianças, jovens e adultos. O mais interessante é que as instrutoras das oficinas na Caravana Pixaim foram alunas formadas nos cursos oferecidos pelo Ponto de Cultura Pixaim, realizados no CECC (Centro Esportivo e Cultural CUFA), localizado no bairro São João Del Rei, em Cuiabá.
Oficinas de trança é lugar descontração e beleza
As rodas de leitura o livro “Cabelo Ruim?” envolveram o imaginário dos leitores. Eles enxergaram nas entrelinhas dessa obra magnífica as dificuldades do outro, os sentimentos do outro e puderam refletir que todos somos diferentes e merecemos respeito.
As personagens do livro, Bia, Tatá e Ritinha, povoaram o espaço da leitura nas salas, nas quadras, nos pátios e se personificaram em cada sorriso, em cada lágrima de reencontro consigo mesmo e o “sabor” de saber que não existe cabelo ruim, apenas diferente.
Leitura do livro "Cabelo Ruim?" ponto alto nas cidades visitadas
O que foi a Caravana Pixaim para você?
“Foi um momento de envolvimento com a comunidade escolar e nas oficinas um ótimo aprendizado dos inscritos”.
Maria de Lourdes da Silva Paixão (Assessora Pedagógica de Mirassol D’Oeste)
“Ótima. O projeto trouxe uma sensibilização para a comunidade escolar acerca dos preconceitos enfrentados pelas pessoas por causa da aparência devido aos modelos pré-estabelecidos; logo proporcionou a todos nós uma reflexão e contribuiu para o crescimento cultural de todos”.
Zuleide Auxiliadora de Oliveira (Assessora Pedagógica de Nobres)
Peça teatral "Cabelo Ruim?" arte como eixo reflexivo
“As escolas têm trabalhado a Lei (10639/03) de forma muito tímida ainda. O trabalho mais efetivo é feito por professores que são também militantes do Movimento. Embora a questão seja uma lei, e isso é uma vitória do movimento e também de outros segmentos da sociedade, é necessário que o trabalho vá além dos feitos no dia 13 de maio e 20 de novembro. E a Caravana Pixaim é um sinal de que isso pode ser diferente, ou seja, sairmos de ações esporádicas partindo para um trabalho contínuo”.
Carlos Alberto Caetano (Professor e membro do Conselho Estadual de Educação)
“Não gostava do meu cabelo, pois meus colegas ’zoavam’ de mim, dizendo que ele é ruim. Com isso ficava insatisfeita e triste. Assisti à peça ‘Cabelo Ruim?’ e não agüentei, comecei a chorar, pois aquela era a minha história. Depois da apresentação, fui para casa e contei para minha mãe do acontecido e ela ficou muito feliz. Ganhei no sorteio o livro ‘Cabelo Ruim?’ e já li ele inteiro.”
Karoline Faria, 13 anos (aluna da Escola Estadual Zeferino José de Matos, da cidade de São José dos Quatro Marcos)
O público sempre atento as ações da Caravana Pixaim
Essas são algumas impressões dentre a de milhares de anônimos que acompanharam de perto a caminhada, o percurso, o montar e levantar acampamento dos andarilhos da Caravana Pixaim, que em 2011 promete muitas outras aventuras culturais, educacionais e momentos de reflexão acerca das diferenças.
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