terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Menino brinca de boneco!

Oficinas do Projeto Pixaim nas Escolas encerram atividades

Por Neusa Batista


Alunos na E.E Manoel Corrêa,em Várzea Grande, no encerramento da oficina de boneca negra

As atividades do Projeto Pixaim nas Escolas chegam ao fim da primeira etapa com uma certeza: meninos brincam sim de boneca! Eles se esmeraram no ultimo sábado, 18,finalizando a oficina de bonecas do projeto. Como resultados, surgiram vários personagens infantis em forma de bonecos que encantaram a todos.

A relação de gênero foi um dos principais temas discutidos na oficinas de bonecas do projeto. Esta aliás, é uma marca registrada do Projeto Pixaim, o Espaço Trançando Idéias, no qual são discutidos temas como o preconceito, a discriminação entre outros. “Gostei das discussões, pois eles puderam falar de tudo o que vivenciam no dia a dia e também sobre preconceito”, opinou a instrutora de bonecas do Projeto, a Assistente Social Joana Sene. Para ela, mais do que aprender a fazer bonecas, os alunos puderam se aprofundar mais sobre estes temas, que geralmente são alvo de piadas e brincadeiras na escola.

Boneca confeccionada na oficina

Gabriel, Leonam e Matheus. Meninos que hoje possuem um brinquedo carregado de significados para além do simples ato de brincar. “Acho que não tem nada a ver menino brincar com boneco. Essa brincadeira é dos dois, mas se fosse uma boneca eu não brincaria porque todo mundo iria ficar tirando sarro. Eu pensava que a oficina era só para fazer boneca, mas descobri que podia fazer um boneco também e gostei”, comentou Leonam Ferreira Costa, 10 anos, morador do bairro Construmat, em Várzea Grande, aluno da escola Apolônio Frutuoso da Silva, no mesmo bairro.

“Boneco” e não “Boneca”, que fique bem claro. Mas mesmo marcada pelo conflito entre os gêneros, a escolha dos meninos pela oficina é no mínimo interessante. Como Leonam, outros garotos do bairro e da escola Manoel Corrêa de Almeida, em Várzea Grande, apareceram com seus bonecos, os quais estavam praticamente finalizados. Entre uma e outra brincadeira, pararam para refletir sobre o que estava acontecendo ali. Geanderson Mateus de Carvalho, de 11 anos, manteve a posição: “Se fosse uma boneca, eu não brincaria com ela, mas boneco eu brinco. Vou dar para o meu sobrinho, pois eu não gosto de brincar muito. Ele é pequeno, tem dois anos e pode brincar”.

Meninas exibem tranças

Matheus Oacir de Moreira, também de 11 anos, é categórico ao afirmar: boneco é para menino. E promete: “Vou brincar muito com o meu boneco, vou inventar brincadeiras, brincar com meus amigos. Se conseguir, vou fazer outros bonecos, completar uma família”.
Além de finalizar as peças, os alunos – crianças e adultos – também levaram para casa tecidos e aviamentos para fazer enfim sua boneca, sem a ajuda da instrutora. Questionados, todos se sentiram capazes de finalizar uma boneca. “Achei muito legal poder fazer minha boneca.Queria fazer uma coleção toda e guardar no quarto. Acordar de manhã e ver todas as bonecas. Acho interessante os meninos fazer bonecas, pelo menos eles não vão ficar zombando das meninas”, opinou a estudante Vitória da Costa Pessoa, de 10 anos, moradora do bairro Alameda, em Várzea Grande, e aluna da escola Manoel Corrêa de Almeida..


Trancinhas

A quantidade de penteados interessantes que se podia ver denotava o nível de qualidade atingido pelos alunos fiéis da oficina de tranças. Entre elas a dona de casa Josinei Maria da Silva, que freqüenta desde a primeira aula e hoje já é capaz de fazer penteados diferenciados em sua filha e sobrinha.


Alunas da oficina de trança de "cabeça feita"

A instrutora de tranças, Tatiane Amorim, lembra que a oficina é apenas uma introdução à arte de trançar, servindo como estímulo para a formação e quem sabe até mesmo a escolha de uma nova profissão. “Abrimos caminho para eles sentirem mais vontade, estímulo para fazer isso em casa, pois nas oficinas do Programa Escola Aberta damos a introdução à prática. O resto depende da dedicação e da criatividade de cada um”.

Na escola Bela Vista, a dona de casa Iraci Pereira Aragão, portadora de necessidades especiais, foi o destaque da turma, sendo a aluna que melhor aprendeu a trançar. “Gostei muito do projeto, é uma das coisas que aprendi, pois passo o dia todo em casa, sem nada para fazer”, disse ela, por meio do seu filho, Raul Aragão, que é estudante da escola Bela Vista.

As escolas estaduais Bela Vista, em Cuiabá, e Manoel Corrêa de Almeida, em Várzea Grande, foram as primeiras a receber o Projeto Pixaim na Escola. A ação é realizada pela Central Única das Favelas de Mato Grosso (CUFA-MT) e consiste em oferecer oficinas de Roda de Leitura durante a semana, onde se utiliza o kit pedagógico do projeto, e oficinas de tranças afro e bonecas aos finais de semana. O kit pedagógico do Projeto Pixaim contém exemplar do livro “Cabelo Ruim?”, da escritora Neusa Baptista, uma bolsa e uma camiseta do projeto e três bonecas de pano representando as personagens do livro, além de um cenário que funciona como uma casinha de bonecas.

Em 2011, o Projeto Pixaim nas Escolas vai atender a mais quatro escolas estaduais.

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