terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Oficinas do Pixaim são espaço de reflexão


Por Neusa Baptista

Um espaço aberto para reflexão. Assim são as oficinas oferecidas pelo Projeto Pixaim. As aulas estão acontecendo desde o início de fevereiro no Ponto de Cultura Pixaim, localizado no Centro Esportivo e Cultural da Central Única das Favelas (CUFAMT), no bairro São João Del Rei, em Cuiabá. Estão sendo oferecidas oficinas de tranças afro e bonecas negras.

A atividade atraiu mulheres de bairros como Manduri, Osmar Cabral e São João Del Rei, mas também de localidades mais distantes, como Recanto dos Pássaros e Jardim Vitória. Todas interessadas em aprender algo novo e direcionar seu aprendizado à geração de renda, uma das metas do projeto.

Além das oficinas práticas, o Projeto Pixaim oferece também o espaço “Trançando Idéias”, onde acontecem bate-papos sobre temas relativos ao universo feminino, e uma oficina de leitura com base no livro “Cabelo Ruim?”, que conta a história de três meninas às voltas com o preconceito contra o cabelo crespo.

E foi assim nesta terça-feira (23), com as alunas da oficina de tranças afro. No centro das discussões estava o cabelo crespo, também chamado de ‘bombril’ ou ‘pixaim’. Um bate-papo informal trouxe à tona discussões sobre temas como o preconceito racial, auto-aceitação, influência da mídia na formação da auto imagem etc. Veja abaixo algumas opiniões trocadas no encontro:

“O racismo existia sim entre as meninas [personagens do livro “Cabelo Ruim?”]. Uma delas teve que cair em si e perceber a sua própria beleza. Diante disso, cada uma delas procurou se melhorar, mas sempre em busca de sua própria beleza e assim foi quebrando o racismo”. (Solange)

“Tirei uma lição para mim mesma. Meu cabelo sempre foi ‘grenho’. Quando comecei a ler a história, lembrei do meu tempo de criança. Percebi que não é só uma história de criança, mas uma coisa que acontece mesmo”. (Gislaine)

“Eu vejo o cabelo de estrelas como a Beyoncé e a Whitney Houston, que são alisados. Hoje, os artistas divulgam esta imagem do cabelo alisado e o que eles fazem os fãs também seguem. Eles não valorizam a raça, se valorizassem os fãs também seguiriam. Veja o exemplo do Bob Marley, eu jamais usaria aquele cabelo, mas os fãs dele sim. Isso porque ele é um artista, se fosse um cidadão comum seria motivo de chacota. A mídia também estimula a imagem. Tem que estar na mídia para ser aceito. Indiretamente a mídia forma idéias. (...) Cuidar do cabelo dá trabalho e custa caro. A gente joga a responsabilidade toda para cima da pessoa, mas muitas vezes ela não cuida porque não tem dinheiro. Eu mesmo, quantas coisas quero fazer e não faço porque não tenho dinheiro”. (Gilson, marido de Gislaine).

“Se a pessoa tem o cabelo crespo é por causa da raça dela. O meu cabelo é liso, mas se eu tivesse o cabelo crespo não alisaria nunca. Eu acho bonito o cabelo crespo”. (Neuza).

“Não existe cabelo ruim, mas sim cabelo mal cuidado. O meu mesmo, se fosse bem cuidado ficaria bem melhor”. (Vidalva).

“Não existe cabelo ruim, existe cabelo crespo, ondulado. Nosso cabelo não é ruim. Ruim é uma palavra muito pesada. Na minha família, somos nove mulheres. Os mais velhos sempre cuidavam dos mais novos. Na história do livro, as meninas enfrentam preconceito na escola, mas no meu caso o problema era em casa mesmo. Quantas vezes minhas irmãs mais velhas batiam na cabeça da gente com o pente quando estavam penteado! Eu usava tranças e na escola os meninos puxavam e tiravam sarro. Meus irmãos usavam alisante e pente de ferro que esquentava no fogão. Eu não queria fazer nada disso, então cortei meu cabelo bem curto. Quando li o livro em algumas partes pensei: essa é a minha história”. (Rosa).

Estimular a reflexão e o surgimento de novas idéias é uma das metas do Projeto Pixaim. Por meio desta ‘tempestade de idéias’ busca-se estimular a construção de novos conceitos de valorização da estética negra ou de tudo que esteja fora dos padrões de beleza. Busca-se refletir sobre o que é ou não aceito como belo e por que. E, acima de tudo, busca-se estimular nossa capacidade de mudar estes padrões por meio de práticas simples: trançar cabeças ou criar belas bonecas negras.

O Projeto Pixaim é coordenado pelo Núcleo Maria Maria, núcleo de mulheres da CUFA-MT. As oficinas de tranças acontecem às terças e quintas, às 14 h. As de bonecas, às quartas e sextas, no mesmo horário. Mais informações: 3665 1064. Siga-nos no twitter: www.twitter.com/pixa_im.

2 comentários:

  1. AFF O PRÓPRIO NEGRO ACEITA E COLOCA NOMES OFENSIVOS AO SEU CABELO DEPOIS AS CRIANCINHAS BRANCAS OU ADULTOS SEJA O QUE FOR NAS ESCOLAS NO SERVIÇO XINGAM COMO QUISEREM PQ O NEGRO NO FUNDO CONCORDA.EU NUNCA IRIA EM PROJETO TRATAR MEU CABELO NUM LUGAR QUE ESTÃO CHAMANDO ELE DE ''PIXAIM'' FELIZ A DONA DO BELEZA NATURAL QUE ATRAIU MILHARES DE NEGRAS LEVANTANDO SUA AUTO-ESTIMA SEM DÁ NOME PREJORATIVOS. AS VEZES QUERO TER ORGULHO DE TER SANGUE NEGRO MAS NEGRO NÃO SE VALORIZA.

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  2. QUANDO TENTA SE VALORIZAR TEM QUE SER ASSIM..?

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