sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Caravana já passou por 21 cidades

Por onde ela passa provoca discussões sobre autoestima, aceitação, valorização da cultura local e o preconceito racial

Por Neusa Baptista

Neusa Baptista ministrando oficina de leitura na Caravana

A Caravana Pixaim, coordenada pela Central Única das Favelas de Mato Grosso (CUFA-MT) cumpriu esta semana mais uma etapa de sua longa jornada pelas escolas públicas do interior do Estado. Desta vez, as cidades visitadas foram Tangará da Serra, Barra do Bugres e Nobres, nas quais a trupe se apresentou para quase mil pessoas, entre alunos, professores e pessoas da comunidade.

Crianças acompanhando a leitura do Livro "Cabelo Ruim?"

A Caravana Pixaim é uma ação patrocinada pela Lei Rouanet, e conta com recursos do Grupo André Maggi. As atividades, que começaram em maio, já atingiram 21 cidades mato-grossenses, incluindo Cuiabá e Várzea Grande, onde as atividades começaram em maio deste ano. Na bagagem, a peça teatral “Cabelo Ruim?”, baseada no livro homônimo da jornalista Neusa Baptista, atividade de leitura e oficina de tranças afro. Quatro mil unidades do livro estão sendo doadas aos municípios, e encaminhadas a escolas estaduais, municipais, bibliotecas públicas, entidades do movimento negro, Pontos de Cultura e outras instituições interessadas em debater o tema. O encaminhamento está sendo feito por meio dos assessores pedagógicos subordinados à Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC-MT), parceira do Projeto Pixaim.

Alunos da Escola Julio Müller de Barra do Bugres assistindo a peça teatral "Cabelo Ruim?"

A partir de junho deste ano, a Caravana partiu para o interior do Estado, onde se aprofundou o conhecimento da realidade das escolas estaduais quanto à discussão sobre as relações raciais em sala de aula, comenta Neusa Baptista, que também é uma das coordenadoras do projeto. “Por meio da Caravana Pixaim, pudemos mergulhar neste universo escolar, tomando contato com diferentes realidades, nas mais variadas áreas do Estado. A cada viagem, percebemos a necessidade de levar a discussão sobre o preconceito racial para dentro da sala de aula, quebrar tabus e assumir as contradições. Esperamos estar contribuindo para que isso aconteça”.


Jéssika Lara,formada pelo Ponto de Cultura Pixaim, apresentando as tranças afro em oficina para estudantes

Em Tangará da Serra, a Caravana passou pela escola Pedro Alberto Tayano, uma das mais antigas da cidade, e recebeu muitos aplausos dos cerca de 300 alunos do local. A assessora pedagógica do município, Tereza Lopes da Silva, destacou a importância de iniciativas como estas para despertar a discussão do tema na escola. “Faltam coisas assim para estimular os professores. Nas escolas, vemos que há projetos isolados, de eventos etc. , mas é difícil ainda incluir a discussão sobre a questão racial dentro do Plano Político Pedagógico (PPP) da escola”. O aluno Ewerton da Silva, de 9 anos, foi um dos mais animados durante as apresentações. “Achei muito bom o projeto, pois acho que existe sim preconceito dentro da escola”, disse ele.

As alunas Thany Kléia Angelo de Souza, de 10 anos, e Emilly Cristina da Luz, também aprovaram a atividade. “É bom porque a gente não pode insultar as pessoas que são diferentes da gente”, concordaram as amigas.

Rapazes aprendendo a arte de trançar

Em Barra do Bugres, a Caravana foi recebida com festa pela comunidade escolar, que preparou apresentações de siriri com o grupo Me chama que eu vou integrado por alunos da escola Júlio Muller, a anfitriã da festa. Houve também demonstrações de canto e de Rebolation com os jovens da escola.

A diretora Luzia Peres, opina que a maior dificuldade para tratar do tema das relações raciais em sala não é a falta de material, mas sim a falta de adesão dos professores, o que ela atribui ao próprio preconceito racial que cada um possui. “A concepção do próprio professor sobre isso muitas vezes é racista. Material para trabalhar, nós temos no dia-a-dia, aqui na escola frequentemente temos casos de racismo, uma aluna chegou a sair da escola por isso. Nosso material de trabalho é o cotidiano”.

Grupo de Siriri Me chama que eu vou

O assessor pedagógico do município, Elias Fortunato de Souza, concorda. “O preconceito é velado, mas com freqüência vemos acontecer nas escolas. Falta formação para os professores”.

Em Nobres, a Caravana movimentou os alunos da escola Nilo Povoas, entre eles a jovem de 16 anos Pablinne Thaiane da Silva, que foi a vencedora do sorteio de um exemplar do livro “Cabelo ruim?”, respondendo a uma pergunta sobre a peça teatral e expondo seu ponto de vista sobre o tema aos colegas presentes na apresentação. A história dela se mistura à do próprio livro, pois a aceitação do cabelo crespo está acontecendo aos poucos em sua vida. “Até os 12 anos eu não arrumava o cabelo, tinha vergonha. Daí para frente passei a alisá-lo e não parei mais. Mas agora, quero deixá-lo voltar ao natural. Vejo sempre pessoas negras como Taís Araújo que assumem seu cabelo e estou tomando coragem para fazer isso também”, confessa ela.

Em outubro, a Caravana Pixaim visita ainda os municípios de São José dos Quatro Marcos e Mirassol D’Oeste.






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