sábado, 27 de novembro de 2010

Pixaim encerra temporada

A odisséia da Caravana pelas terras de Mato Grosso terminou essa semana com visita a quatro cidades

Por Neusa Baptista


Apresentação da peça "Cabelo Ruim?" na escola Antônio Cristino Cortes em Barra do Garças

A Caravana Pixaim , ação coordenada pela Central Única das Favelas de Mato Grosso (CUFA-MT), realizou sua última incursão pelo interior do Estado esta semana, passando por Chapada dos Guimarães, Campo Verde, Primavera do Leste e Barra do Garças entre os dias 22 e 25 de novembro. Estas são as últimas das 30 cidades que receberam a ação em 2010.

Desde abril, a trupe da Caravana já circulou por cidades de regiões diferentes do Estado, como Rondonópolis e Peixoto de Azevedo, entre outras. Em Cuiabá e Várzea Grande, 20 escolas receberam o Projeto, que consiste na apresentação da peça teatral “Cabelo Ruim?”, elaborada pela CUFA-MT em parceria com o Grupo Teatral Tibanaré, que leva ao palco a atriz Hendy Assunção; distribuição do livro homônimo, da jornalista Neusa Baptista, e realização de oficinas de leitura, dança e tranças afro. A ação é patrocinada pela Lei Rouanet com recursos do Grupo André Maggi.

Oficina de dança em Barra do Garças

Na última viagem da Caravana, a novidade foi o B.boy Faraó, integrante da CUFA-MT, que apresentou às escolas as manobras da dança de rua, break e outros ritmos que tiveram origem na periferia. Muita gente que nunca havia dançado soltou o corpo.

Em alguns locais, as ações da Caravana Pixaim complementaram as atividades de comemoração do Dia da Consciência Negra já realizados pelas escolas. “A Caravana veio abrilhantar todo o trabalho que nós já estamos fazendo. Estamos trabalhando na Semana da Consciência Negra a história de Zumbi e de repente vocês chegam com uma peça que vem valorizar o grande número de meninos e meninas que têm o cabelo diferente”, comentou a professora de História, Nat Ortega, lembrando que vários estudantes da escola Tereza Albernaz são remanescentes de quilombos. “Essa peça tem a ver com tudo o que estamos tentando fazer, referente a autoestima da criança que tem o cabelo diferenciado”.

Peça "Cabelo Ruim?" em Chapada dos Guimarães

“A peça foi muito boa para valorizar as afrodescendência. Muita gente acha que as pessoas que têm o cabelo ruim são feias, sujas”, comentou a aluna da escola Ana Tereza Albernaz, Júnia, no município de Chapada dos Guimarães.

Por onde passa a Caravana Pixaim tem buscado despertar a reflexão sobre como está sendo tratado o tema relações raciais dentro da escola. Para a professora de Biologia Lucivani, da escola Waldemon Moraes Coelho, no município de Campo Verde, o Projeto Pixaim trouxe a idéia de que a diferença física não deve interferir na vida das pessoas. “Não importa se o cabelo é pixaim ou não. O que importa hoje para a Humanidade é olhar o outro com o coração. Nós temos que respeitar as diferenças dos outros e, acima de tudo, aceitá-las”.


Alunos da escola Waldemon Moraes Coelho,Campo Verde, atentos a apresentação teatral

Componente de um grupo teatral, o aluno Charles Pierre se disse impressionado com o trabalho desenvolvido pela Caravana Pixaim. “Eu nunca vi uma peça assim, onde o que é encenado é o que acontece no seu dia a dia. Acho que isso deveria ser levado a mais escolas”.

Em Barra do Garças, a Caravana fechou suas atividades arrancando aplausos dos alunos da escola Antônio Cristino Cortes. A novidade atraiu também moradores da cidade, que compareceram para conferir as peripécias de Ritinha, Tatá e Bia, representadas na peça “Cabelo Ruim?”. A estudante Mônica Assunção Corrêa avaliou como positiva a realização da Caravana na cidade, pois, apesar de ser turística e, por isso, receber pessoas de várias partes do mundo, Barra do Garças ainda é muito preconceituosa, avalia ela. “É muito comum ser chamada de cabelo duro, cabelo ruim, falar que a mulher alisa o cabelo porque é palha de aço. Isso aqui é normal, mas a pessoa tem que se gostar”.


Oficina de leitura em Primavera do Leste

Na platéia, também estava a professora. “Pude notar que, durante a apresentação, os alunos negros estiveram atentos todo o tempo. Eles deixam de ver o negro na senzala e o vêem no palco. O cabelo, principalmente na fase juvenil, é um símbolo de poder para as mulheres e quando ela vê esse cabelo sendo discutido, passa a ter uma autoestima melhor, pois se vê em outro espaço”, afirmou a professora Cleanil Fátima de Araújo Bastos, que estuda e ministra cursos sobre História da África há mais de 20 anos. Para ela, falta atitude do professor na hora de abordar o tema em sala. “A África está presente em todos os materiais didáticos, já foi produzida muita coisa sobre isso, há cursos de formação para educadores. “Independente da lei 10.639/03, a História da África está presente em todo o currículo do ensino de História. Basta o professor fazer o seu planejamento incluindo isso, sem precisar criar nenhuma disciplina à parte”.

Toda a história do Projeto Pixaim, incluindo textos e fotos sobre a Caravana Pixaim podem ser conferidos nos blogs: www.projetopixaim.blogspot.com e www.cufa.org.br/matogrosso.

Um comentário:

  1. Ola! sou aluno da escola "Antonio Cristino Cortes" Barra do Garças ! cade as fotos que tiram dos alunos ?

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