Não existe cabelo ruim, e sim, crespo, dizem alunas de Juscimeira

Caravana Pixaim atinge cerca de 400 crianças e adolescentes no município e comemora a estréia de nova integrante na equipe, oriunda do Ponto de Cultura Pixaim

Por Fernanda Quevedo

As negas malucas de Juscimeira

Hoje foi a vez do município de Juscimeira receber a Caravana Pixaim. Sem dúvidas, a escola onde o projeto realizou suas atividades hoje foi uma das mais emocionantes. A Caravana Pixaim é um projeto capitaneado pelo Núcleo Maria Maria da CUFA – MT (Central Única das Favelas de Mato Grosso), que neste ano visitará 30 municípios. A ação compreende o lançamento e a distribuição de quatro mil exemplares da segunda edição do livro “Cabelo Ruim?”, de Neusa Baptista, e apresentação da peça teatral “Cabelo Ruim?”, encenada pelo Grupo Tibanaré de Teatro. Oficinas de leitura e trança afro estão sendo levadas as escolas, e toda a ação e viabilizada pelo Ministério da Cultura por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) e conta com o patrocínio do Grupo André Maggi.

Desde maio, a Caravana já esteve em 10 escolas em Cuiabá, 10 em Várzea Grande, e também pelos municípios de Peixoto de Azevedo, Colíder e Alta Floresta, atendendo quase 9 mil crianças e adolescentes. Na escola estadual Antônio Jose de Lima, em Juscimeira, além das ações da Caravana Pixaim, foram realizadas diversas ações culturais preparadas pelas escolas Dom Vunibaldo e Campos Salles, haja vista que um dos objetivos do projeto é incentivar a produção, o acesso e a fruição dos bens culturais pelos municípios por onde passa.

Eidiane Gandara é trancadeira formada pelo Ponto de Cultura Pixaim

A Caravana Pixaim também marca a integração da aluna de trança afro do Ponto de Cultura Pixaim, Eidiane Gandara dos Santos, o que mostra que as oficinas de formação oferecidas no Centro Esportivo Cultural CUFA já deram resultados. Agora a Eidi, como é carinhosamente chamada pela equipe, é uma profissional das tranças, e ela mesma vai poder usufruir de seu trabalho. “Isso é protagonismo”, comenta Paulo Ávila, coordenador da CUFA Mato Grosso.

Os alunos da escola Dom Vunibaldo apresentaram o projeto ``Resgatar a Cultura Local``, onde uma apresentação de Siriri foi realizada com alunos que moram a 40 quilômetros de Juscimeira. Já os alunos da escola anfitriã fizeram uma belíssima roda de samba, encantando cerca de 400 alunos presentes. Mas a atividade que mais chamou atenção pela graciosidade e também pelo conceito que carregava consigo foram as `Negas Malucas`, da escola Estadual Campos Salles. As alunas vestidas a caráter demonstraram como lidar com o preconceito de forma irreverente e lúdica.

Oficina de leitura

A escola Antônio José de Lima não deixou a desejar em nenhum quesito. Fizeram uma ótima produção do evento, mobilizaram mais escolas para a apreciação e, a todo momento, foram muito atenciosos com a equipe de produção da CUFA-MT. Emocionada, a dedicada e sorridente diretora Nilza Moreira de Aguiar comentou a peça Cabelo Ruim?: “Foi emocionante relembrar os tempos de criança e as tranças que as mamães faziam. Aquilo nos entristecia, quando na verdade deveria nos dar orgulho. O que faltava naquela época era informação para saber lidar e entender o preconceito. Mesmo nos dias de hoje, com tanta informação, pode-se perceber o preconceito nas relações infantis. Esse projeto (Projeto Pixaim) veio dar mais ênfase ao nosso trabalho da Lei 10.639/03; veio ajudar as crianças a se valorizarem e se sentir ainda mais. Acho que eu esperava mais do que os alunos”.

Quem confirmou a importância do projeto para a escola foi a aluna Dheice Aparecida, de 14 anos: “Quem prestou bastante atenção na peça, vai aprender muito mais daqui para a frente. Ela não serve só para quem tem cabelo crespo. Quem tem cabelo liso vai aprender a não discriminar, e quem tem cabelo crespo vai aprender a se valorizar ainda mais”.

Oficina de tranca

Já a coordenadora pedagógica da escola, Marlene Silva, acrescenta: “Nos deparamos com questões de preconceito todos os dias com as crianças. Já trabalhamos essa questão, mas dessa vez percebemos que ela vem com o foco diferenciando, que é o cabelo, nos proporcionando ampliar ainda mais nossas formas de trabalhar”.

Neusa Baptista, coordenadora do Projeto Pixaim, comemora: “Ficamos muito felizes com esse entendimento da escola, em especial no que se refere à linguagem. Aqui foi uma das poucas escolas em que ouvimos mais a expressão ‘cabelo crespo’ do que ‘cabelo ruim’. Isso é de fato um avanço significativo”.

Contente, a Caravana Pixaim segue hoje (21) para a Jaciara, onde realizará as suas ações na escola CEJA Marechal Rondon. De lá, segue para Rondonópolis e depois para o município de Dom Aquino. As ações da Caravana Pixaim seguem até o mês de novembro, passando por 30 cidades do Estado.400 alunos de 4 escolas participaram da Caravana Pixaim

Acompanhe a cobertura da Caravana Pixaim em tempo real: http://www.twitter.com/pixa_im